segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Odisseia Moderna

"Ee Gh: és gagá"

Confesso que ainda estou um pouco mortificado e confuso após ter lido "Ulysses", do autor irlandês James Joyce. Há quase três meses, embarquei numa verdadeira aventura, e mais do que tudo, num grande desafio de ler esta obra. Sempre ouvi falar que era um dos livros mais complexos de toda a história da literatura. Bem, depois de ter lido, acho que quem disse isso estava correto.

"Ulysses", escrito entre 1914-21, conta a história de um dia - 17 de Junho de 1904, uma quinta-feira - da vida de Leopold Bloom, o Ulisses da Odisseia moderno. Só que este é um homem comum, mas muito atormentado por dentro. Joyce nos mostra suas estadas por vários lugares, desde o seu desjejum. Começando por ir a um enterro de seu amigo, ele vai passando por diferentes lugares, de bibliotecas a tavernas, passando por bordeis e hospitais. Que fique claro que não entreguei nada, pois tais lugares estão presentes no roteiro do livro.

Entre as oito da manhã e as duas da madrugada, nos é apresentado, de forma surreal e divertida, todos os conflitos do aparentemente normal. Leopold Bloom. Temos a oportunidade de ver
também um pouco da vida de Stephen Dedalus, um jovem estudioso com sérios problemas com os pais. Li em algum lugar que Bloom representaria um Joyce mais velho e responsável; já Dedalus, seria a versão mais nova de Joyce, em seus vinte anos, quando ainda era inconsequente e irresponsável.

Agora fica a pergunta: por que considero "Ulysses" uma das maiores, senão a maior obra-prima de todos os tempos da literatura? Primeiramente, a revolução que Joyce produziu com o seu livro no mundo da escrita. Seu texto, totalmente surreal e aparentemente sem um nexo principal, nunca tinha sido feito antes. Segundo, as várias e várias formas de linguagem que ele destila em seu livro, tais como: trocadilhos, neologismos e jogos de palavras. Terceiro, a quantidade de citações e referências históricas e literárias, tornando o livro sofisticado e ao mesmo tempo mais complicado ainda. Terceiro, a descrição de certos aspectos fisiológicos do ser humano, o que levou o livro a ser proibido em alguns países. Ele, com seu linguajar despojado e não economizando palavrões, antecipa D.H. Lawrence e seu "Lady Chatterley" em alguns anos. Quarto, e o que mais me fascinou, foi o seu extraordinário tato para o humor.
Em algumas partes, você simplesmente tem que gargalhar por um bom tempo. "Ulysses" foi o livro que mais me fez rir, com certeza.

Em meio a tantos adjetivos, alguns podem reclamar que a obra seja demasiada longa, truncada e complexa. Ainda mais a versão que li, traduzida por Houaiss, em 66. Tendo-se paciência, tempo e calma, a leitura deste livro torna-se agradabilíssima. E de quebra, tem-se a chance de se ler um dos livros mais revolucionários, mais engraçados e mais bem-escritos livros de todos os tempos. James Joyce e seu "Ulysses" foram um marco não só para o Modernismo em voga na época, mas para a história da literatura em geral. Fica parecendo que tudo o que era possível se fazer numa obra de arte, Joyce o conseguiu, quebrando todas as barreiras do possível para a literatura.

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