quinta-feira, 20 de outubro de 2011

And Justice For All (Metallica, 1988)


Sempre há um álbum nas bandas de rock - bandas em geral, pode-se dizer - o qual intitulam de "O Divisor de Águas". Foi assim com os Beatles, em "Sgt. Peppers", com o Queen em "A Night Of the Opera", com o The Who em "Tommy", com o The Clash em "London Calling", e porque não com o Megadeth em "Countdown to Extinction"? Na maioria dos casos, a mudança não é bem vista pelos fãs das bandas. Muitos deixam de acompanhá-las, enquanto outros passam a escutá-las. Foi assim com as bandas citadas e também assim foi com o Metallica, a partir do álbum "And Justice For All", de 1988. Os fãs mais radicais chamaram a banda de vendida. Outros acharam a mudança bem vinda. E ainda outros, que não conheciam a banda, passaram a conhecer e gostar.



Quem se animou e bateu muito a cabeça com o álbum anterior, "Master Of Puppets", clássico definitivo do Trash Metal, esperava que a banda mantivesse a pegada. Muitos acusam o Metallica de ter perdido a pegada nesse álbum. Concordo e discordo. "And Justice for All" não tem a mesma força e garra de "Master", mas mantém uma boa conjunção de peso, melodia e técnica, mistura que a banda vinha ensaiando desde "Kill'Em All". E que, diga-se de passagem, ficou excelente.


"And Justice" possui as mais complexas linhas metallicas. Andamentos ainda mais elaborados, variações constantes tanto de bateria quanto de guitarra, letras mais complexas e organizadas, solos inspiradíssimos - talvez os mais inspirados de todos os álbuns, etc. O peso ainda estava lá, com um acréscimo de melodia. Prova disso é "Blackened", primeira música do álbum e já de cara um porrada no ouvido de qualquer metaleiro. "Blackened" de cara se tornou um clássico metállico, obrigatório em qualquer show da banda. Em seguida, a longa, elaborada e mais calma "And Justice For All", seguida da ótima "Eye of the Beholder", quando, finalmente, chegamos ao ápice, com a metade balada/metade porrada "One". Na minha opinião, "One" é nem mais nem menos a melhor música do Metallica. Com um começo calmo, um refrão nervoso, e final apocalíptico, "One" resume bem o que o Metallica é em termos de música: peso/melodia/técnica. Um excelente trabalho de bateria e guitarra e voz - pois o baixo não se ouve, infelizmente - que arrepia qualquer metaleiro. "One" é perfeita. Simples assim.



Seguido à "One", vêm as também excelentes e complexas "The Shortest Shaw", "Harvester of Sorrow" e "The Frayed Ends Of Sanity". "To Live is To Die" é uma bela composição instrumental, certamente feita em homenagem ao falecido baixista Cliff Burton, que havia morrido num trágico acidente de ônibus enquanto a banda viajava. O álbum fecha com "Dyers Eve", uma verdadeiro arrasa-quarteirão metállico. Com ou sem baixo, infelizmente inaudível durante todo o álbum - alguém pode explicar? Respeito ao Burton? - "And Justice For All" configura certamente como um dos melhores álbuns de Heavy/Trash Metal da história, o que deveria ser normal numa banda como o Metallica. Cheio de peso, ainda sim, com uma pitada a mais de melodia e mais técnica ainda. Um prenúncio para o que chamo de "ápice mettálico", o aclamado - e odiado - "The Black Album".

9/10

Álbum: And Justice For All Ano: 1988 Gênero: Trash Metal/Heavy Metal Componentes: James Hetfield (Guitarra Base e Vocal), Kirk Hammett (Guitarra Solo), Lars Ulrich (Bateria) e James Newsted (Baixo e Backing Vocal)



Adendo: como fã de heavy metal, acho ridículo o fato de se deixar de gostar de uma banda pelo simples motivo da mesma arregimentar outras influências e modificar o seu som. Mal de alguns metaleiros, que querem porrada, porrada e porrada. Não só de porrada vive o heavy metal.

Entretanto, concordo com quem crucifica o Metallica por causa de "Load", "Reload" e, pra completar de vez, "St Anger". Isso não foi mudar o som, foi se vender. Nesse ponto eu concordo em gênero, número e grau. Mas isso é assunto para outro post.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Master Of Puppets, Metallica (1986)


"Soldadinho, feito de argila
Agora, uma carapaça vazia
Idade: 21, filho único,
Mas ele nos serviu bem
Nasceu para matar, não para dar a mínima
Faça igual ao que nós mandarmos,
Terminado aqui, Conheça a morte
Ele é seu, você pode levar embora".

"Disposable Horoes", Metallica

Toda banda deseja realizar um álbum que no futuro pense e diga: "Aquilo foi a melhor coisa que a gente já fez". Ou, mais ainda: "Aquilo foi perfeito. Não posso ultrapassar". Bandas como o Metallica podem dizer isso. "Master of Puppets", terceiro álbum da banda, é o que existe de melhor no trash metal. Ninguém fez ou fará um álbum melhor que este na história do trash metal. Alguns mais otimistas dizem que na história não só do trash, mas do heavy em geral.


"Master of Puppets" nasceu da união do peso de "Kill' Em All" e da técnica de "Ride the Lightning". Já em seu terceiro petardo, a banda já sabia perfeitamente a que viera ao mundo: para recheá-lo de peso, fúria e técnica, e de quebra, com letras fortes e otimamente escritas. Assim como "Ride" falava de morte, "Master" fala de dominação - a começar pelo título, que, traduzido, fica "Mestre dos Fantoches". E a dominação começa pela agressão, com "Battery", primeira música do álbum. Ela começa tranquilamente, ao som do violão, quando termina numa barulheira infernal, um verdadeiro arrasa-quarteirão de estourar o tímpano de qualquer handbanger que se preze.

"Master of Puppets" vem para colocar o caos de vez no álbum. Com um riff poderoso, que acordaria até Lázaro de seu túmulo, "Master" é uma das músicas mais poderosas da história do rock e uma das melhores letras da banda, que fala sobre a dominação de uma pessoa pelas drogas. Ela se torna o seu mestre, e você pode não ter saída. "The Thing Should Not Be" vem para acalmar um pouco os ânimos, falando sobre a dominação pela loucura. "Welcome Home (Sanitarium) fala da dominação do ponto de vista do habitante de um hospício. Ela começa bem tranquila, com viradas mais nervosas, até dar num riff pesado que vai até o final. A música tem um clima estranho, e transmite bem a loucura que tenta passar.


"Disposable Heroes" é daquelas músicas que revoltam. Não por ser ruim, muito pelo contrário, mas pelo seu conteúdo, ajudado pelo peso que externa. A dominação aqui é pela guerra; os soldados, pobres e mortos de fome, garotos, mal saídos da escola, agora matam. Matam por interesses de outros os quais nem têm conhecimento. "Leper Messiah" - literalmente, "O Messias Leproso" - , uma das minhas letras favoritas, fala da dominação pela religião. Com um ritmo mais lento, mas mesmo assim pesada, a música destila toda a sua raiva e revolta contra os religiosos mentirosos e farsantes, que usam de um ídolo caduco para cada vez mais extorquir dinheiro das pessoas.


"Orion", a penúltima música do álbum, é instrumental e mostra toda a habilidade do fantástico e finado baixista Cliff Burton. Ela começa com um efeito de pedal de seu baixo, e passa todos os seus 8:28 de duração marcada pela presença de seu baixo. Definitivamente, a melhor composição instrumental da banda. "Damage Inc.", talvez o maior arrasa-quarteirão metallico, vem para destruir tudo e não deixar nada em pé. Com uma letra forte, que fala sobre a dominação pelo trabalho exaustivo e que paga uma miséria, "Damage" é pra você banguear, banguear e banguear. E se puder, bata a cabeça na parede. Essa música é pra te deixar louco.


"Master of Puppets" é um álbum de uma banda em seu ápice e no auge de sua forma. Considerado pelos fãs mais xiitas como o "último álbum do Metallica", "Master" é um divisor de águas da banda, que já em "And Justice for All" iria para um lado mais calmo, que seria finalizado em "The Black Album". Discordâncias à parte, só é preciso dizer três coisas de "Master of Puppets": um, é o melhor álbum de trash metal da história; dois, é um dos cinco melhores álbuns de heavy metal; três, é o auge de uma banda como o Metallica. Acho que só pelo terceiro motivo valeria ouvir o álbum. Até porque, quando se trata de Metallica, não se fala de qualquer banda, mas do Metallica. E fim de papo.

Álbum: Master Of Puppets Ano: 1986 Gênero: Trash Metal/Speed Metal Componentes: James Hetfield (Voz/Guitarra Base)/Lars Ulrich (Bateria)/Kirk Hammet (Guitarra Solo)/Cliff Burton (Baixo)

9,5/10