Sempre essa questão dá o que falar – permitam-me o clichê. A classe média, dita cuja por si mesma “sustentadora do país”, é contra. Afinal, quem mais poderia se sentir prejudicado com a entrada de pobres enxeridos, dos quais eles não têm culpa se estudaram em escola pública de péssima qualidade ou não?
Deixando a classe média de lado, pela qual não tenho o mínimo afeto e nem quero perder meu tempo, voltemos às cotas. Essa questão já dita polêmica me veio a mente quando, ao bisbilhotar aquela novela horrível das 9 – e qual novela não é horrível? - e ver uma coisa que me irritou bastante, desde a primeira vez que me deparei: um certo personagem, o qual não sei nem desejo saber o nome, é um aluno cotista de uma universidade. A mãe é pobre e mecânica. Por ser mecânica,usa roupas não muito adequados para mulheres, além de falar de forma simples. Por essa razão, seu filho estudante de Medicina, tem “vergonha” da mãe e não quer que ninguém saiba que ela o é.
Piorando a situação, o tal cotista está noivo de uma garota rica. Nem esta nem sua família sabem da existência da mãe do garoto. Este, não quer que saibam que sua mãe é a dita cuja que foi apresentada aqui. Com tal dilema, ele contrata uma “mãe de aluguel”, sofisticada, diferente de sua mãe bronca.
Enfim, o que quero com isso tudo? Primeiramente, para deixar bem claro, não assisto a novelas. Vezes ou outra acabo assistindo um pedaço pois moro com uma pessoa que é fã de novelas, e entre umas e outras, acabo vendo alguns pedaços. Coincidentemente, parei para assistir justamente nessa parte. E, na hora, achei de um absurdo tremendo aquilo. Primeiro, a figura do cotista, ou melhor, do pobre como um oportunista que quer subir na vida a todo custo e deseja, de qualquer maneira, renegar o seu passado pobre, inclusive sua mãe pobre – e “macha”. Agora, imaginem, milhões de pessoas assistem às novelas – infelizmente, é claro - ; que ideia essas mesmas terão dos cotistas? Sim, porque a maioria do pessoal que gosta de novela toma os seus personagens como exemplos e formam sua opinião a partir delas. Vendo aquele cotista do jeito que é, de forma inverossimilhantemente e, o pior de tudo, canalhamente, o que pensarão dos cotistas? Que todos não passam de oportunistas e almejadores de dinheiro e ascensão social?
Muitos podem não ver nada demais naquilo; a novela só apresenta a vida de um cotista, e não de vários. Mas a novela vive de estereótipos. Os que a assistem, repito, a tomam por exemplo. Aquele personagem não existe; é o cúmulo do ridículo e do pretensioso.
Em contrapartida, como sempre, a mãe machona e pobre é apresentada de forma mais simpática. Como a maioria do povo pobre acompanha essas novelas – infelizmente, mais uma vez -, o pobre não pode ficar mal apresentado. Ou seja, uma junção de estereótipos com uma ponta de ridículo permeia essa e todas as outras novelas. O Brasil só é bom nessa porcaria; e tem orgulho de bater no peito e dizer: nossas novelas são reconhecidas lá fora. Essas novelas não passam de um exemplo de como esse país não passa de um país atrasado, agarrado a estereótipos e visões retrógradas. Prestem atenção: a novela não ensina nada, ela não é exemplo de nada. Não percam seu tempo assistindo. Ao invés disso, vão ler um livro ou mesmo conversar com outra pessoa, coisas certamente muitíssimo mais interessantes.
E quanto a esse autor, autor porra nenhuma, que eu sou mais autor que ele; engula seus preconceitos – e os digira, seguindo o exemplo do nosso “saudoso” ex-presidente Collor - , para não dizer outra coisa.
P.S. Mas é claro que, no final, ou antes do final, o cotista vai perceber que tudo que está fazendo é errado. Ele estava cego de ambição. E vai pedir perdão à mãe e tudo vai acabar bem. Ou pior, a família rica vai descobrir que a mãe dele é pobre e que o mesmo tem vergonha dela. Já não bastasse tudo, as novelas são previsíveis. Previsíveis demais!
Nem sabia que esse cara era um cotista...
ResponderExcluirÉ sim. Apenas por acaso soube que ele era cotista, pois ouvi a mãe dizer isso, eu acho.
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