terça-feira, 30 de agosto de 2011

É o cotista um vilão?


Antes que pensem que condenarei os cotistas, podem parar por aí, pois também sou um. Sempre fui a favor das cotas, mesmo não achando que essa seja a forma correta de inclusão nas universidades. Que fique bem claro, entretanto, que sou a favor das cotas dos alunos provenientes da rede pública de ensino; as cotas para negros, acho-as eu ridículas, desprezíveis e racistas. Parênteses: antes que me chamem de racista, eu mesmo sou negro.

Sempre essa questão dá o que falar – permitam-me o clichê. A classe média, dita cuja por si mesma “sustentadora do país”, é contra. Afinal, quem mais poderia se sentir prejudicado com a entrada de pobres enxeridos, dos quais eles não têm culpa se estudaram em escola pública de péssima qualidade ou não?

Deixando a classe média de lado, pela qual não tenho o mínimo afeto e nem quero perder meu tempo, voltemos às cotas. Essa questão já dita polêmica me veio a mente quando, ao bisbilhotar aquela novela horrível das 9 – e qual novela não é horrível? - e ver uma coisa que me irritou bastante, desde a primeira vez que me deparei: um certo personagem, o qual não sei nem desejo saber o nome, é um aluno cotista de uma universidade. A mãe é pobre e mecânica. Por ser mecânica,usa roupas não muito adequados para mulheres, além de falar de forma simples. Por essa razão, seu filho estudante de Medicina, tem “vergonha” da mãe e não quer que ninguém saiba que ela o é.

Piorando a situação, o tal cotista está noivo de uma garota rica. Nem esta nem sua família sabem da existência da mãe do garoto. Este, não quer que saibam que sua mãe é a dita cuja que foi apresentada aqui. Com tal dilema, ele contrata uma “mãe de aluguel”, sofisticada, diferente de sua mãe bronca.

Enfim, o que quero com isso tudo? Primeiramente, para deixar bem claro, não assisto a novelas. Vezes ou outra acabo assistindo um pedaço pois moro com uma pessoa que é fã de novelas, e entre umas e outras, acabo vendo alguns pedaços. Coincidentemente, parei para assistir justamente nessa parte. E, na hora, achei de um absurdo tremendo aquilo. Primeiro, a figura do cotista, ou melhor, do pobre como um oportunista que quer subir na vida a todo custo e deseja, de qualquer maneira, renegar o seu passado pobre, inclusive sua mãe pobre – e “macha”. Agora, imaginem, milhões de pessoas assistem às novelas – infelizmente, é claro - ; que ideia essas mesmas terão dos cotistas? Sim, porque a maioria do pessoal que gosta de novela toma os seus personagens como exemplos e formam sua opinião a partir delas. Vendo aquele cotista do jeito que é, de forma inverossimilhantemente e, o pior de tudo, canalhamente, o que pensarão dos cotistas? Que todos não passam de oportunistas e almejadores de dinheiro e ascensão social?

Muitos podem não ver nada demais naquilo; a novela só apresenta a vida de um cotista, e não de vários. Mas a novela vive de estereótipos. Os que a assistem, repito, a tomam por exemplo. Aquele personagem não existe; é o cúmulo do ridículo e do pretensioso.

(O jovem cotista e sua mãe, a qual ele tem vergonha).

Em contrapartida, como sempre, a mãe machona e pobre é apresentada de forma mais simpática. Como a maioria do povo pobre acompanha essas novelas – infelizmente, mais uma vez -, o pobre não pode ficar mal apresentado. Ou seja, uma junção de estereótipos com uma ponta de ridículo permeia essa e todas as outras novelas. O Brasil só é bom nessa porcaria; e tem orgulho de bater no peito e dizer: nossas novelas são reconhecidas lá fora. Essas novelas não passam de um exemplo de como esse país não passa de um país atrasado, agarrado a estereótipos e visões retrógradas. Prestem atenção: a novela não ensina nada, ela não é exemplo de nada. Não percam seu tempo assistindo. Ao invés disso, vão ler um livro ou mesmo conversar com outra pessoa, coisas certamente muitíssimo mais interessantes.

E quanto a esse autor, autor porra nenhuma, que eu sou mais autor que ele; engula seus preconceitos – e os digira, seguindo o exemplo do nosso “saudoso” ex-presidente Collor - , para não dizer outra coisa.


P.S. Mas é claro que, no final, ou antes do final, o cotista vai perceber que tudo que está fazendo é errado. Ele estava cego de ambição. E vai pedir perdão à mãe e tudo vai acabar bem. Ou pior, a família rica vai descobrir que a mãe dele é pobre e que o mesmo tem vergonha dela. Já não bastasse tudo, as novelas são previsíveis. Previsíveis demais!

2 comentários: