quarta-feira, 24 de março de 2010

O terror da guerra pelas lentes do mestre



"... todos estão preparados para comer as próprias tripas e pedir mais".

É nesse clima que o fantástico filme "Nascido para Matar", do magnífico Stanley Kubrick, é rodado. Não é objetivo do ilustre diretor mostrar herois e bandidos, ou melhor, exaltar os herois, como foi feito em "Rambo", filme que Kubrick não gostava por tal razão. Foi uma resposta do mestre a esse heroísmo, mostrando que a guerra é uma coisa horrenda, que mata tanto de um lado quanto do outro, e os que sobrevivem, se não ficam loucos, nunca conseguem tirar a guerra de suas mentes!

"Full Metal Jacket" fala sobre a Guerra do Vietnã. Ah, mais um filme que fala sobre tal guerra!!! Bem, não se trata de mais um filme, mas sim, DO filme sobre essa guerra. Dividido em duas partes, uma totalmente diferente da outra, mas com o mesmo objetivo: mostrar com a guerra enlouquece... e mata! A primeira parte mostra o treinamento dos recrutas, ainda nos EUA. Calcado em várias tiradas hilárias - cujo maior responsável é o Sargento Hartman, interpretado pelo ótimo R. Lee Ermey -, muitas pessoas julgam que esta é a parte que mais interessa, pois simplesmente arranca gargalhadas de qualquer um. Não é só arrancar gargalhadas o que tal parte demonstra. Além disso, mostra como se transforma inocentes rapazes em "monstros dispostos a digerirem as próprias tripas". E este é só o prenúncio do verdadeiro terror que é a guerra...

A segunda parte, na minha opinião mais marcante que a primeira, apresenta o recruta Hilário - ou Gaiato, na versão dublada - já no Vietnã. Lá, encontra Cowboy, amigo dos tempos de trinamento, e se junta à ele. No decorrer dessa parte, mostra-se finalmente o que se esperava de um filme de guerra: o combate, registrado magistralmente pela câmera de Kubrick, ora ágil, com seus travellings; ora lenta, com seus zoom ins e zoom outs. Kubrick, ao lado de Francis Ford Coppola com seu "Apocalypse Now", conseguiu fazer um filme de guerra altamente técnico, sabendo dosar muitíssimo bem a ação que se espera de tal gênero de filme, com momentos de suspense, sofrimento e, por incrível que pareça, diversão. É essa miscelânea de sentimentos que faz desse filme único!

Fica a pergunta: seria "Nascido para Matar" o melhor filme de guerra de todos os tempos? Na minha opinião, sim. E direi os motivos. Primeiro, por não ser apenas um filme de guerra, com tiros pra lá e pra cá, tendo herois e vilões para aclamar e xingar. Stanley Kubrick vai além; mostra que a guerra não é só isso, e sim, uma destruidora de mentes, enlouquecendo-as, desnorteando-as, deixando-as amedrontadas ao extremo. E o que é pior, matando pessoas que talvez nem saibam qual seja o real significado do porque lutar, a não ser o de defender a nação. Segundo, nenhum filme de tal gênero soube mostrar tão perfeitamente o terror da guerra. Terceiro, é o filme de guerra tecnicamente mais bem feito, superando até "Apocalypse Now". Além de ser o mais criativo, o mais emocionante e o mais engraçado. Sim, digo mais uma vez, Kubrick consegue misturar guerra com comédia! Quarto, possui atuações memoráveis, como as do Sargento Hartman - R. Lee Ermey - , recruta Gomar Pyle - otimamente e psicoticamente interpretado por Vincent D' Onofrio - e recruta Hilário - interpretado por Mattew Modine.

Sendo ou não fã confesso de Stanley Kubrick, qualquer um que assistir "Nascido para Matar" irá achá-lo talvez não o melhor filme de guerra de todos os tempos, mas pelo menos, tem a obrigação de reconhecer nele um filme tocante, cheio de ação e comédia. Conseguir captar o sentido do filme, é tudo o que peço. Conseguindo-se isso, entender-se-á porque tanto gosto de tal obra. E porque merece todas as glórias possíveis.


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