Dizer que algum filme é a obra prima de um gênero parece um pouco radical, não é? Sim, eu sou radical, e a maioria das coisas que faço é oito ou oitenta. Além disso, há filmes que possuem seus representantes “máximos”. Por exemplo, “2001: Uma Odisseia no Espaço” é quase unanimidade como melhor filme de ficção cientifica; “O Poderoso Chefão” é indiscutivelmente o melhor filme quando o assunto é máfia; “Cantando na Chuva” é uma sumidade quando se trata de musicais. Assim acontece com “Psicose”, o clássico dos clássicos dos filmes de terror. Um dos mais imitados, parodiados e homenageados da história do cinema.
“Psicose” é um dos filmes mais conhecidos e consagrados da sétima arte. Até aquele que não conhece o cinema de perto já ouviu falar do filme. Eu era um desses, e quando o assisti, confesso que fiquei impressionado. Eu já havia visto um filme de Alfred Hitchcock - “Janela Indiscreta” - mas este, apesar de fantástico, não havia me passado o mesmo encanto de “Psicose”. Na verdade, talvez só “Laranja Mecânica” me cause tanto encanto quanto “Psicose”.
Mas deixando para lá os encantos pessoais, “Psycho”, do diretor americano Alfred Hitchcock, foi dirigido em 1960, quando o gênero terror focalizava suas atenções em criaturas não-humanas ou a seres de outro mundo. Uma das características principais e mais marcantes foi o fato de o “monstro” ser uma pessoa, um ser feito de carne e osso, e não um ET ou mesmo monstros como vampiros. E essa é apenas uma das infinitas qualidades do filme. Afinal, se eu fizesse um post apontando todas as características positivas da película, ficaria aqui o dia todo e ainda assim não conseguiria.
“Psicose” conta a história de uma funcionária de uma imobiliária – interpretado por Janet Leigh – que decide fugir com 40 mil dólares pagos por um cliente – o costumeiro “McGuffin dos filmes de Hitch - , que havia comprado uma casa. No caminho da fuga, ela passa por vários obstáculos, até que decide pernoitar num hotel longe de tudo e de todos. Lá, conhece Norman Bates – interpretado por Anthony Perkins, que ficou eternamente marcado pelo personagem – um simpático rapaz que parece ser confiável. Ele é filho da dona do hotel. Esta, parece não gostar nada da estadia da mulher. E essa raiva – ou ciúme – culmina quando a mesma assassina a hóspede enquanto a mesma está tomando seu banho, inocentemente, na cena mais conhecida da história do cinema.
Alfred Hitchcock já era um diretor consagrado quando fez “Psicose”. Falar de sua maestria em colocar a câmera sempre no lugar certo, na riqueza dos detalhes, na escolha certa dos atores, nos diálogos curtos e secos e no andamento fascinante e sem pressa de mostrar o ato seguinte, é meio que redundância. Qualquer fã de cinema se encanta com este filme, que ainda de presente, traz – a meu ver – a melhor trilha sonora da história do cinema. Bernard Herrmann, o maestro dos maestros em quesito trilhas sonoras, simplesmente eternizou o filme com seus violinos torturantes na cena do assassinato. Sua trilha não é marcante apenas nesta cena, mas desde o começo, com seu prelúdio macabro. Já desde o começo, a sua marca é deixada, e se torna impressionante como sua trilha aparece nos momentos precisos – coisa que muitos filmes não conseguem.
Quanto às atuações, Janet Leigh está convincente no papel de Marion; Vera Miles – uma excelente atriz, mas pouco explorada – também não fica para trás, e se sai fantástica no papel da irmã de Marion. E, claro, Anthony Perkins, no papel que o eternizou no cinema, como o doce e simpático Norman Bates, esteve perfeito. Créditos também para Martin Balsam, o detetive Milton Arbogast; e John Gavin, como o amante de Marion.
Influência em 10 de 10 diretores de filmes de terror, “Psicose” é daqueles filmes que, além de ter causado filas quilométricas em todos os cinemas, revolucionou a história do cinema. O gênero do terror nunca foi o mesmo depois deste filme. “Psicose” não tem interesse em chocar o telespectador, mas angustiá-lo, prepará-lo, “amadurá-lo” para as situações principais do filme. Hitchcock disse certa vez que ficou muito feliz com o resultado de sua obra, pois ele não precisa fazer praticamente nada; o filme levaria a atenção do público por si só. Isso é o mais próximo da verdade impossível. “Psycho” prende, talvez mais do que qualquer outro filme, a atenção do espectador de forma angustiante e torturadora. Sabemos que algo de ruim irá acontecer, mas, enquanto o tempo passa, Hitch se diverte, sadicamente, em “enrolar” o espectador , fazê-lo esperar pelo desfecho do filme, o mais impressionante da história do cinema – na minha opinião, é claro.
Depois de tantas qualidades, resta assistir a este filme. Já o vi quatro ou cinco vezes, e o veria toda semana e não cansaria. “Psicose” é desses filmes que merecem estar no panteão das obras mais importantes da história. Seja por sua excelência, seja por seu aspecto revolucionário, é um filme que merece aparecer em qualquer lista de “Melhores Filmes” de qualquer crítico. Assim como “A Regra do Jogo”, “Cidadão Kane”, “O Encouraçado Potemkin”, o mundo do cinema nunca foi o mesmo depois de “Psicose”. Melhor parar por aqui, pois me estenderei ainda mais e não conseguirei acabar esse post. Tornando minhas as palavras de Janet Leigh, ela explicará melhor do que ninguém as razões pelas quais “Psicose” é um clássico do cinema:
“O brilhantismo de “Psicose” está no fato de que faz com que a imaginação das pessoas aflore. Hoje, você não usa sua imaginação, eles te mostram tudo. Eu acho que os novos filmes de terror não são tão bons. Sua imaginação é muito mais forte do que qualquer coisas que se possa mostrar graficamente”.
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