quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os 13 petardos de Stanley Kubrick - Parte 2

Resolvi dividir em três partes esse post pois, além de muito longo, agora entra os grandes clássicos, as inesquecíveis obras-primas desse grande mestre. E depois, as máximas obras-primas. Vamos à elas!


8º Glória Feita de Sangue (Paths Of Glory) - 1957

Me acostumei a ver filmes de guerra que relatassem a Segunda Guerra Mundial. Acho que este foi o primeiro que assisti que contava sobre a Primeira. Nas resenhas que lia sobre ele, diziam ser um clássico, um dos filmes mais tocantes sobre o assunto. Foi o que constatei ao vê-lo.

Focado não em herois, mas em covardes, Kubrick fez uma dos filmes anti-guerras mais poderosos da história do cinema. No filme, soldados franceses recusam-se a continuar um ataque suicida contra os alemães. Com isso, seus superiores decidem levá-los à Corte Marcial, onde poderão ser julgados à morte.

Kirk Douglas faz o papel do defensor dos acusados, e o fez otimamente. Foi o primeiro filme que vi dele, e logo já me chamou a atenção. Kubrick o escolheu muito bem para o papel. Penso que não haveria ator melhor para ele.

Neste filme, vê-se o talento sem limites do mestre, com seus habituais closes e tomadas longas. Fora o tema, antes de mais nada abusado. Por causa disso, o filme foi censurado na França. Talvez não aceitassem uma crítica tão ácida ao terror da guerra...


7º O Iluminado (The Shining) - 1980

Talvez me crucifiquem por colocar este filme em tal posição. Muitos fãs não o acham pior que "Spartacus" ou "Nascido para matar". Polêmicas à parte, eu o coloco nessa posição.

Considerado como um dos melhores e mais atorrorizantes filmes de terror, "O Iluminado" é a adaptação do clássico de terror de outro mestre, Stephen King. Este, não sei porque, não gostou da versão kubrickiniana, acusando-o de ter tirado o terror do seu livro. Penso que King deveria ver o filme com mais cuidado, pois em sua crítica, acho-o completamente preciptado.

Estrelado por ninguém mais ninguém menos do que Jack Nicholson, o filme conta a história de Jack Torrance - interpretado por Nicholson - , que foi contratado para vigiar o hotel enquanto estivesse no inverno. Jack leva seu filho e mulher juntos, pensando que a estadia daria uma melhorada na relação entre eles. Ledo engano. O hotel guarda recordações macabras, escondidas durante anos, que já fizeram vítimas e não deixarão de fazer.

O filho de Jack tem um poder especial de visões, e é costumeiramente acometido por elas. Uma delas é simplesmente uma das cenas mais aterrorizantes do cinema.

Inexplicavelmente indicado ao "Framboesa de Ouro" - Oscar oferecido aos piores filmes - na época, "O Iluminado", contrariando os críticos de cinema, é considerado por todos uma das melhores obras-primas do terror - pra mim, a melhor. Jack Nicholson está em uma de suas melhores atuações, diabólico e insano como só ele saber ser. Mesmo que a performance de Shelley Duvall não tenha sido satisfatória, isso não apaga a magia que existe neste filme. Só assistindo mesmo para entender o que falo.


6º Spartacus (Spartacus) - 1960

Este foi o primeiro trabalho em que Kubrick fez numa grande empresa. Isso se tornou possível quando Kirk Douglas, que havia gostado de trabalhar com ele em "Glória Feita de Sangue", chamou-o para dirigir o filme, depois da expulsão de Anthony Mann. Kubrick, então com 29 anos, não conseguiu liberdade para colocar em prática todas suas ideias, e viu seu trabalho "limitado" por conta de diferenças com os produtores e com o astro Douglas. Depois desse filme, ele foi para a Inglaterra e daí em diante só aceitaria projetos nos quais tivesse total liberdade.

O filme conta a história de Spartacus, um escravo que sonha com a liberdade, mas é condenado à morte por ter mordido o pé de um soldado. Porém, sua sorte muda quando um lanista - negociante e treinador de escravos - compra-o para ser treinado nas artes de combate e se tornar um gladiador. Na arena, Spartacus lidera uma revolta de escravos, que atinge meia Itália.

Mesmo limitado, Kubrick faz um memorável trabalho épico, que já me maravilhara desde que vi o trailer. Com um trabalho de fotografia ótimo, além de toda grandiloquência emanada pelo filme, "Spartacus", para mim, é um dos maiores épicos de todos os tempos. Lembro-me que falava muito de "Gladiador". Quando vi "Spartacus", descobri que o filme do Ridley Scott, além de ser uma imitação, ficava bem abaixo do trabalho kubrickiniano.

Para acrescentar, só uma história que um amigo me contou esses dias. Um dos roteiristas do filme estava com medo de colcoar seu nome nos créditos pois estava sendo perseguido por ser comunista. Kubrick, querendo dar uma de amigo, disse: "Se está com medo de colocar seu nome, não tem problema, coloca o meu". O cara deve ter ficado puto com tamanho abuso, e mesmo perseguido, decidiu colocar o nome nos créditos.


4º Barry Lyndon (Barry Lyndon) - 1975

Esse sim, o maior épico dirigido por Kubrick. Acho que uma palavra pode definir sua direção neste filme: perfeição. Dito isso, não se precisa falar mais nada. Estaria eu exagerando? Ok, como exagerar de alguém que tenha moral parar filmar com lentes criadas pela Nasa? Como exagerar de alguém que tenha filmado à luz de velas??? Sim, só com luz de velas, nenhuma iluminação mais!!! Isso sim é um exagero; de direção!


"Barry Lyndon", interpretado por Ryan O'Neal, é uma verdadeira "talentosa fraude", que inevitavelmente é expulso de onde quer que se meta. Depois de passar por muitos lugares, consegue casar com uma rica senhora, que o sustenta. Aproveitando-se disso, usa e abusa do dinheiro dela e passa a vida em bebedeiras e jogos de sorte - ou azar, se preferir.

Com um roteiro primoroso, fotografia espetacular - premiada com o Oscar - , ambiente maravilhoso, enfim, um filme que com certeza deveria ser lembrado por qualquer crítico de cinema. Infelizmente, esqueceu-se desse filme. Por isso existem os fãs para se lembrarem dele!


5º Dr. Fantástico (Dr Strangelove Or: How I Learned To Stop Worrying And Love The Bomb) - 1964

Penso ser este um dos poucos filmes que brincam com um tema tão sério e tão discutido até hoje: a guerra fria. Kubrick queria fazer um filme de drama, mas acabou fazendo uma obra-prima de humor negro. Sempre ouvia ótimas crítcas do filme, e desejava ver se ele era tão bom assim mesmo. Foi daqueles filmes que me surpreenderam muito positivamente.

"Dr Fantástico" fala sobre um general do exército que enlouquece e manda que se joguem bombas na URSS, para neutralizá-la. Feito o mandato, faz-se o possível para revertê-lo, e depois de muitas tentativas e falação, é chamado para ajudar o Dr. Fantástico, que sugere alternativas para caso a Terra seja destruída por uma guerra nuclear.

O mais impressionante é o fato de como Kubrick pode ter tornado algo tão sério em tema de humor negro. Dei muitas risadas com tamanhos absurdos que eram ditos no filme, fora as caras que o capitão Mandrake - interpretado por George C. Scott - fazia cada vez que ele não concordava com algo que era dito. Mas quem rouba mesmo a cena é Peter Sellers, que se divide em três papeis, sendo que o de maior destaque é o Dr Fantástico. Com uma fala engraçada, hipóteses engraçadas e sua mão que não pára, foi ele o causador da maior parte de minhas risadas.

"Dr. Fantástico" é para mim o melhor filme de comédia já feito. Não só porque me fez rir muito, mas pelo fato de ter reunido um tema totalmente fora do normal, com atuações impecáveis e um fundo político, tornando-o extremamente genial. Agora, se você é daqueles que gostam de filmes ditos de comédia com os de Jim Carrey, não chegue perto desse filme, pois além de não achar graça, não entenderá nada.


3º Nascido Para Matar (Full Metal Jacket) - 1987

O mais turbulento; o mais doentiamente psicológico; o mais avidamente contrário à guerra; o melhor filme de guerra, enfim. "Nascido Para Matar" é tudo isso e mais um pouco. Kubrick consegue dirigir o mais talentoso e diferente filme de guerra de todos os tempos. Talentoso porque se trata de Kubrick, e se falando nele, espera-se o seu perfeccionismo e seus closes e tomadas abusadas; diferente pois mistura com humor com horror. Sim, o filme é permeado por duas partes: a primeira, que mostra os soldados em treinamento, faz qualquer um ter um mal do estômago de tanto rir; o segundo, retrata o terror da guerra.

O filme, narrado por um dos soldados, é especial pois fala sobre quão terrível e desumano é o treinamento de quem vai à guerra. Tenta-se tirar cada gota de sentimento que há em cada soldado, até que ele se transforme num monstro humano, pronto a matar qualquer um que esteja contra a nação americana, seja ele uma barata ou um vietnamita. Deterioriza-se a mente de cada soldado até a exaustão. Destrói-se o que de bom poderia haver dentro de cada um. Depois de "despersonalizado", é enviado à guerra para defender sua nação. É isso que o filme mostra, foi isso que Kubrick quis mostrar.

Além de especial, "Nascido Para Matar" é antes de tudo realista. Não há espaço para romances, nem vínculos de amizade; só há espaço para treinamentos cansativos, com direito a gritos, desfiles, exercícios cansativos, xingamentos contra sua pessoa; e depois, o contato com o terror da guerra. Não há espaço para mais nada. Só a guerra interessa. E os soldados estão conscientes disso.

Sem exageros de explosão, mas com um set de batalha magistralmente construído, Kubrick mais uma vez trata da guerra de forma fantástica, divertindo e emocionando ao mesmo tempo.


To be continued...

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