O nome do Marquês de Sade é ligado a tudo do mais baixo nível pelos conservadores e
Passado nos dois últimos anos da Segunda Guerra Mundial - 44-45 - , o filme conta a história de quatro burgueses fascistas, situados em Saló, que sequestram dezesseis jovens com o objetivo de aplicar neles as mais baixas e infames perversões sexuais e humilhantes - só para citar uma delas, todos os presentes, em uma das cenas, são obrigados a comerem nada mais nada menos do que fezes.
Pasollini, anticlerical e antifascista ferrenho, quis ligar a prática sádica levada ao extremo com o regime fascista, regime este que, autoritário como é, justifica os fins em si mesmo. Junto com o fascismo, a burguesia também caiu como luva no saco de pancadas.
Com belos enquadramentos, e uma direção clássica, Pasolini soube levar muito bem a película durante os 117 minutos de duração. Mesmo que seu filme possua várias partes com personagens completamente nus e insinuando cenas de sexo, o filme não excita em momento algum. Pelo contrário, ele causa repulsa, repugnância.
Certamente, "Saló" é um filme que foi um choque para a época, e ainda deva ser para quem pensa que irá assistir a um filme normal. Não o foi para mim, pois conhecia a obra e sabia mais ou menos o que iria passar. Nem entretanto senti repugnância das cenas. Em vez disso, dei boas risadas com essa dita repugnância e com as narrativas hilárias das prostitutas. Nelas, eu percebia o humor essencialmente sarcástico de Sade. Também não vi terror nenhum durante todo o filme, como alguns apontam.
Liberado apenas atualmente nos EUA e Inglaterra - não vejo motivo pelo qual esconder esse filme -, "Os 120 Dias de Sodoma" não é para frescos. Ele é polêmico, nojento e engraçado. É uma obra radical, anárquica; um ode ao mau-gosto. Enxergado por outras lentes, é uma ácida crítica ao autoritarismo fascista, além de ser um belo filme para quem deseja assistir algo completamente fora dos padrões.
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