Tal filme, realizado em 1930, e subsidiado pelo visconde de Noailles, conta a história de..... aí está: não há um enredo, propriamente dito. Não há uma história. O filme se parece mais com um livro de contos, e estes são passados em sequência. Buñuel disse que "a película trata de um amor jamais concretizado". (Fonte: Wikipédia) Pode ser, mas o sentido do filme não interessa. Quem tentar procurar sentido nos filmes do Buñuel, morrerá tentando.
"L'âge d'or" começa com um mini-documentário ambientado numa praia, onde os protagonistas são escorpiões. Anos depois, na mesma praia, há padres maiorquinos realizando um estranho culto. Em outro lugar, estão soldados estropiados, que caminham a duras penas para chegarem até esses padres. Desse ponto, o filme corta para a chegada de caravelas que vêm prestar homenagens a esses padres.
Não vou continuar a contar, pois não quero ser daqueles espíritos-de-porco que gostam de narrar o filme todo. Só por esse começo, dá para se perceber o quanto anárquico é sua estrutura de cenas. Uma passa para a outra, que, numa primeira olhada, não tem nada a ver com a primeira. Porém, se prestarmos atenção, acabaremos assimilando alguma ligação, mesmo que mínima, à cena anterior. É isso que torna o filme, a meu ver, genial. E mais, genial não só para a época, mas ainda para os tempos de hoje. O que Buñuel fez foi quebrar com os dogmas do cinema e construir uma obra única, atemporal e fantástica.
Em "A Idade do Ouro", "estavam patentes, de forma concentrada e intensíssima, todos os temas básicos que a sua obra posterior continuaria a refletir mais discretamente, mas com igual poder: o amor louco, o anticlericalismo, a rebeldia e inconformismo diante do estabelecido e do convencional, uma ânsia de transcendência, expressos em imagens oníricas e alucinantes, cheias de dureza, de corrosivo humor negro e de uma candura embriagante". (Fonte: Wikipedia) O filme deve ter chocado na época, e ainda pode chocar àqueles presos a dogmas. Pois Buñuel não respeita dogma nenhum; ele é curto, seco e grosso. Ninguém nunca fez - e com certeza não fará - uma obra tão poderosamente crítica e detonadora como "A Idade do Ouro". Numa possível definição, eu a daria dessa forma: uma miscelânea de quadros belamente surrealistas.
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