segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A odisseia contra os filhos duma cadela

Para se escrever um livro sobre camponeses e não cair na panfletagem, todo cuidado é pouco. Cuidado este que John Steinbeck, autor do livro, teve durante todas as páginas de "As Vinhas da Ira". Em nenhum momento vê-se em seu fabuloso livro uma propaganda de partido ou coisa que o valha. O que interessa, apenas, é a história que é contada.

"As Vinhas da Ira" trata da "odisseia" de uma família de trabalhadores rurais, no auge da Depressão dos Anos 30, que é obrigada a deixar suas terras em decorrência de dívidas com os bancos. Em meio à alegria de ter um membro da família de volta - Tom Joad - que acabara de sair da prisão, não se tem tempo nem para se festejar a volta. Todos têm de se arrumar o mais depressa possível, antes que venha o trator e derrube casa, pertences e o que mais estiver em seu caminho.

Misturando deliciosamente bem comédia e drama num mesmo livro, Steinbeck constroi uma narrativa agradabilíssima, que não perde sua fluidez em nenhum momento. Cheio de situações cômicas e emocionantes, ele consegue de forma brilhante oscilar entre o riso e o choro. Seus diálogos, curtos, secos e muito criativos, misturados a suas adoráveis e maravilhosas descrições, dão ao livro uma áurea de perfeição, presente desde a primeira página.

Entre os personagens mais marcantes, estão Mãe, uma dona de casa forte, que nos piores momentos, acaba tomando o lugar de chefe da família; Tom Joad, outro personagem marcante e sua constante característica de sempre lutar contra as adversidades; e claro, como não se lembrar do inesquecível Casy, o pregador que se "demitiu" de seu cargo de pregador e acompanha tal família nessa odisseia pelo mundo do desconhecido e da esperança.

O livro ganhou uma maravilhosa adaptação para os cinemas pelas mãos do grande John Ford, que escolheu as partes essenciais desse extenso livro e o transformou numa obra-prima do cinema. Henry Fonda se sai excelente no papel de Tom Joad. O filme foi indicado a sete estatuetas do Oscar, ganhando duas, inclusive a de Melhor Diretor para Ford.

"As Vinhas da Ira" é um livro de tamanha grandeza que merece estar em uma lista de dez melhores livros de todos os tempos. Como pouquíssimos livros conseguem, ele emociona e alegra ao mesmo tempo, às vezes na mesma página, coisa rara de se ver. Quando o lemos, acabamos solidarizados com tal família. Não só com essa, mas com todas as que tiveram de deixar seus lares para trilhar por terras desconhecidas. Tamanho realismo empregado pelo autor nos faz imaginar estar em tais situações extremas as quais eles viveram. E nesses casos, o que realmente importa é o amor e a solidariedade entre todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário