terça-feira, 21 de junho de 2011

Digressões sobre a TV

"Nós não somos uma rede respeitável. Somos uma rede prostituta. Temos que pegar o que conseguirmos!"

Eu odeio TV. É fácil falar isso diante de um notebook, onde gasto, pelo menos, duas horas diárias clicando em várias coisas, perdendo meu tempo. Posso até odiar a TV, mas tenho de admitir que também sou uma vítima. Muitos não conseguem admitir, tamanho vício já lhes está entranhado. Minha mãe mesmo não vive sem a TV e suas santas - ou seriam malditas? - novelas. Não só ela, mas bilhões de pessoas não vivem sem suas TV's. Elas fazem parte do seu dia; fazem parte da sua vida; fazem parte de seus corpos.

"Rede de Intrigas" é um ótimo catalizador desse vício que toma conta das pessoas. O filme fala do âncora de jornalismo Howard Beale - interpretado pelo ganhador do Oscar Peter Finch - que, após ser demitido devido à baixa audiência de seu telejornal, entra em colapso mental. Aproveitando-se disso, Frank Hackett - Robert Duvall - e Diana Christensen - Faye Dunnaway, também ganhadora do Oscar - que trabalham na emissora de Beale, percebem que podem usá-lo como uma espécie de "profeta do apocalipse", transmitindo aos vários corações americanos enraivecidos de que eles "estão loucos como o diabo e não irão aguentar mais". Quem não concorda com isso é Max Schumacher, amigo de Beale, que não vê nada de bom nessa baboseira toda.

Permeado por um roteiro fenomenal e atuações fantásticas, "Network" mostra muito bem o quão a TV tornou as pessoas bestializadas, ou, como Beale disse em um de seus delírios apocalípticos, tornou-as "humanoides". Mostra também como um canal de televisão não se importa nem um pouco em usar de todas as armas para que sua audiência aumente. Nem que seja necessário usar profetas loucos, gênios adivinhadores, e outras porcarias mais. Nada interessa a não ser a audiência.

Sdiney Lumet, com a ajuda das perfeitas atuações de Finch e Dunaway, consegue construir uma crítica ácida e sem pena sobre a banalidade da Televisão, que não se preocupa nem um pouco ao mostrar uma notícia de morte ao lado de uma propaganda de cerveja. A TV é podre e fede; tudo que ela toca é destruído, como diz Max.

Vencedor de quatro Oscar - Melhor Ator (Peter Finch), Melhor Atriz (Faye Dunaway), Melhor Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Melhor Roteiro Original, "Network" é um dos mais notáveis e críticos filmes dos Anos 70. Sdiney Lumet, com sua costumeira competência, construiu, com seu filme, uma poderosa metáfora da banalização causada pela TV, que parece mais atual hoje do que quarenta anos atrás. Se as coisas já eram de tal forma preocupantes naquele tempo, o que diria Lumet hoje?

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