terça-feira, 28 de junho de 2011

Asneiras religiosas


Hoje foi o dia das asneiras de gente religiosa. Começou bem cedo, antes das oito, quando li a chamada da tal de Miriam Rios no "O Dia": "Eu tenho direito de não querer um homossexual como meu empregado". Bem, aquilo ficou na minha cabeça, pois eu conhecia aquela mulher e queria saber mais a fundo o que ela disse. E a coisa só piorou. Pra completar, ela ainda disse:

“Por exemplo, digamos que eu tenha duas meninas em casa e a minha babá é lésbica. Se a minha orientação sexual for contrária e eu quiser demiti-la, eu não posso. O direito que a babá tem de querer ser lésbica, é o mesmo que eu tenho de não querer ela na minha casa. São os mesmos direitos. Eu vou ter que manter a babá em casa e sabe Deus até se ela não vai cometer pedofilia contra elas [as crianças], e eu não vou poder fazer nada”

E agora digo: o que o cú tem a ver com as calças?! Quer dizer que só as lésbicas são pedófilas? Uma hetero não pode muito bem abusar ou mesmo bater em suas filhas?

Não satisfeita, ela continua: "Se eu contrato um motorista homossexual, e ele tentar, de uma maneira ou outra, bolinar meu filho, eu não posso demiti-lo. Eu quero a lei para demitir sim, para mostrar que minha orientação sexual é outra”, comentou. “Eu queria que meus filhos crescessem pensando em namorar uma menina para perpetuar a espécie”. Novamente, o que isso tem a ver? Se você conseguir provar que um homo ou um hetero bolinou os seus filhos, este pode ser preso. Não tem essa se ele é hetero ou homo; isso é puro preconceito. Percebam como ela sempre liga o termo "homossexual" à "bolinar", "pedofilia". Em nenhum momento ela disse que um hetero poderia fazer isso. É aquela antiga imagem que temos em mente de que os homossexuais são pessoas que "corrompem" a pura e casta moralidade dos bons cidadãos. Não preciso nem dizer a que lugar a senhora deve ir, né?

Depois, vejo um deputado de São Paulo apresentar um projeto em que "aprovado, obriga as escolas públicas a ostentar o crucifixo em lugar de "fácil visualização", na área de circulação de estudantes". Mas que diabos é isso? Querer enfiar religião goela abaixo?! E tem mais! Ainda segundo ele, "tal símbolo representa a moralidade do povo brasileiro", a qual, segundo ele, "vem sofrendo corrosão". É de uma tremenda canalhice e cara-de-pau que chega a impressionar! Entretanto, o digníssimo senhor deputado teve a elegância de dizer que defende "o Estado laico e a diversidade religiosa, argumentando que uma sociedade moderna deve tolerar “até mesmo o ateísmo”. Vejam bem, ATÉ o ateísmo!!! Ou seja, enfiou, e depois de arrombar, quis passar vaselina - se me permitem a comparação infame.

Para completar a asneira toda - como se bastasse tanta para um dia só - o excelentíssimo prefeito do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, quer implementar o ensino religioso para todas as escolas municipais do Estado.

Pra começar, os gastos. Seriam precisos contratar "600 novos professores, o que deve causar um impacto orçamentário anual de aproximadamente R$ 12 milhões". Pelo visto, o Estado do Rio deve estar nadando em dinheiro e nós não percebemos, né?

Na mesma reportagem, descubro que esta porcaria de ensino religioso está previsto na Carta Magna e "conta com o respaldo do artigo 33 da lei 9.394 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional".

Sinceramente, eu não sei o que se passa na cabeça de pessoas como as do prefeito do Rio. Qualquer débil mental - só se ele e muitos religiosos estiverem abaixo dos débeis mentais, o que não me impressionaria - sabe que, ensinando ensino religioso na escola, este será conduzido para o cristianismo, essencialmente, para o catolicismo. Acontece que, mesmo que este país seja o mais católico do mundo - que belo título, né - , isso não significa que só há católicos na sala de aula! Há espíritas, evangélicos - e suas ramificações -, umbandistas, Testemunhas de Jeová, e, é claro, ateus. Por que esses têm de engolir a baboseira, digo, o conteúdo católico-cristão? É de um absurdo tão grande só chegar a se considerar isso, quanto mais pensar em se fazer uma lei que aprove esta asneira.

As escolas estaduais já são obrigadas a isso. Eu tive na sexta série; ainda bem que não tive mais. Mas como se trata de Brasil, isso não me surpreende. É até normal. Aqui não existe nem nunca existiu Estado Laico. E ainda querem apontar o seu grande dedo indicador para os EUA. Não se esquecem que tem mais três apontando para si mesmos - que me perdoem o clichê.

Isso é mais uma prova de como a religião não tem respeito por nada, por opinião nenhuma. Ela quer se impor, como se impunha antigamente. Mas ela não tem o mesmo poder que tinha antes. A igreja já passou do tempo de sentar o seu rabo e sossegar.

P.S. Pesquisadores da UFRJ e PUC ainda tiveram a audácia de dizer que: "o ensino religioso tem sido evocado como um mecanismo de controle individual e social supostamente capaz de acalmar os indisciplinados, de conter o uso de drogas, de evitar a gravidez precoce e as doenças sexualmente transmissíveis”. Para um país de Terceiro Mundo e Subdesenvolvido, é aceitável que essa seja a única solução.

domingo, 26 de junho de 2011

Midnight Cowboy Official Trailer 1969

Perdidos na Noite

Sabe-se que nos Anos 60 o cinema americano, o grande "dominante" do cinema mundial, estava em baixa. Continuava-se a fazer bons filmes, mas estes já estavam meio que "cansados", ou melhor, ultrapassados. No final dessa década, entre 1967 e 69, surgiram filmes com um enfoque diferente, tais como "A Primeira Noite de um Homem", "Bonnie e Clyde", "Easy Rider" e "Perdidos na Noite', o que mostrava o começo de uma revitalização do cinemão americano. E é desde último que vou falar.

"Mindnight Cowboy", de 1969, é considerado por muitos o verdadeiro divisor de águas do cinema americano. Ambietado em sua maior parte nas ruas de Nova York, o filme conta a história de Joe Bucker - interpretado por Jon Voight - um caipira ingênuo que sai de uma cidade do meio do nada no Texas e parte para Nova York tentar a vida como garoto de programa. Lá, encontra o malandro Ratso - interpretado por Dustin Hoffman -, ou melhor, Enrico Salvatore Rizzo, como faz questão de dizer a plenos pulmões. Ratso é um pobretão, coxo, que vive de pequenos roubos para sobreviver.

Após passar a perna no pobre Joe, ambos se reencontram se tornam amigos, vivendo juntos e tentando sobreviver, a duras penas, a realidade crua e excludente da vida. É uma história de perdedores; das suas alegrias e tristezas; suas pequenas vitórias e desiluções. É um filme duro, pesado, mas que mesmo assim tem espaço para se dar boas risadas.

Durante toda a película, fica no ar um sentimento de angústia. Dá pena só de olhar a forma como Ratso anda, e como suas pernas e saúde só pioram. Também dá pena ver as tentativas de Joe, atormentado pelo seu passado obscuro, de vender seu corpo, a gays ou a senhoras, para conseguir pelo menos o que comer. E no meio de todo esse sofrimento, o mais importante é ver nascer uma bela e inesperada amizade, a contar pelas diferenças dos dois.

Com uma direção primorosa de John Schlesinger, e um roteiro fascinante de Waldo Salt - baseado no livro de mesmo nome - "Perdidos na Noite" é um filme revolucionário. É impressionante que Hollywood tenha liberado-o, mas o que interessa é que ele veio mostrar que uma nova leva de diretores estava vindo. E com eles, filmes excelentes, realistas e primorosos.

Jon Voight e Dustin Hoffman têm atuações fabulosas; Voight na pele do caipira ingênuo e Hoffman, encarnando de forma perfeita o malandro e sofredor Ratso. Ambos são perdedores, pobres e sem perspetiva de vida. E é nesse ambiente pesado que os dois mostram que a vida, dura como ela é, deve ser encarada. Nem que seja preciso roubar tomates ou vender o próprio corpo.

P.S. Aos que tacham o filme de "datado", por favor, vão dormir! Filmes como este não devem ser assistido por pessoas como vocês.

sábado, 25 de junho de 2011

Os 100 Melhores Livros da Literatura Mundial, segundo a Guardian

A lista está em inglês, mas a grande maioria dos livros são conhecidos. É uma lista bem interessante. Uma pena não ter nenhum livro do Machado ou do Graciliano.

1984 by George Orwell, England, (1903-1950)

A Doll's House by Henrik Ibsen, Norway (1828-1906)

A Sentimental Education by Gustave Flaubert, France, (1821-1880)

Absalom, Absalom! by William Faulkner, United States, (1897-1962)

The Adventures of Huckleberry Finn by Mark Twain, United States, (1835-1910)

The Aeneid by Virgil, Italy, (70-19 BC)

Anna Karenina by Leo Tolstoy, Russia, (1828-1910)

Beloved by Toni Morrison, United States, (b. 1931)

Berlin Alexanderplatz by Alfred Doblin, Germany, (1878-1957)

Blindness by Jose Saramago, Portugal, (1922 - 2010)

The Book of Disquiet by Fernando Pessoa, Portugal, (1888-1935)

The Book of Job, Israel. (600-400 BC)

The Brothers Karamazov by Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881)

Buddenbrooks by Thomas Mann, Germany, (1875-1955)

Canterbury Tales by Geoffrey Chaucer, England, (1340-1400)

The Castle by Franz Kafka, Bohemia, (1883-1924)

Children of Gebelawi by Naguib Mahfouz, Egypt, (b. 1911)

Collected Fictions by Jorge Luis Borges, Argentina, (1899-1986)

Complete Poems by Giacomo Leopardi, Italy, (1798-1837)

The Complete Stories by Franz Kafka, Bohemia, (1883-1924)

The Complete Tales by Edgar Allan Poe, United States, (1809-1849)

Confessions of Zeno by Italo Svevo, Italy, (1861-1928)

Crime and Punishment by Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881)

Dead Souls by Nikolai Gogol, Russia, (1809-1852)

The Death of Ivan Ilyich and Other Stories by Leo Tolstoy, Russia, (1828-1910)

Decameron by Giovanni Boccaccio, Italy, (1313-1375)

The Devil to Pay in the Backlands by Joao Guimaraes Rosa, Brazil, (1880-1967)

Diary of a Madman and Other Stories by Lu Xun, China, (1881-1936)

The Divine Comedy by Dante Alighieri, Italy, (1265-1321)

Don Quixote by Miguel de Cervantes Saavedra, Spain, (1547-1616)

Essays by Michel de Montaigne, France, (1533-1592)

Fairy Tales and Stories by Hans Christian Andersen, Denmark, (1805-1875)

Faust by Johann Wolfgang von Goethe, Germany, (1749-1832)

Gargantua and Pantagruel by Francois Rabelais, France, (1495-1553)

Gilgamesh Mesopotamia, (c 1800 BC)

The Golden Notebook by Doris Lessing, England, (b.1919)

Great Expectations by Charles Dickens, England, (1812-1870)

Gulliver's Travels by Jonathan Swift, Ireland, (1667-1745)

Gypsy Ballads by Federico Garcia Lorca, Spain, (1898-1936)

Hamlet by William Shakespeare, England, (1564-1616)

History by Elsa Morante, Italy, (1918-1985)

Hunger by Knut Hamsun, Norway, (1859-1952)

The Idiot by Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881)

The Iliad by Homer, Greece, (c 700 BC)

Independent People by Halldor K Laxness, Iceland, (1902-1998)

Invisible Man by Ralph Ellison, United States, (1914-1994)

Jacques the Fatalist and His Master by Denis Diderot, France, (1713-1784)

Journey to the End of the Night by Louis-Ferdinand Celine, France, (1894-1961)

King Lear by William Shakespeare, England, (1564-1616)

Leaves of Grass by Walt Whitman, United States, (1819-1892)

The Life and Opinions of Tristram Shandy by Laurence Sterne, Ireland, (1713-1768)

Lolita by Vladimir Nabokov, Russia/United States, (1899-1977)

Love in the Time of Cholera by Gabriel Garcia Marquez, Colombia, (b. 1928)

Madame Bovary by Gustave Flaubert, France, (1821-1880)

The Magic Mountain by Thomas Mann, Germany, (1875-1955)

Mahabharata, India, (c 500 BC)

The Man Without Qualities by Robert Musil, Austria, (1880-1942)

The Mathnawi by Jalal ad-din Rumi, Afghanistan, (1207-1273)

Medea by Euripides, Greece, (c 480-406 BC)

Memoirs of Hadrian by Marguerite Yourcenar, France, (1903-1987)

Metamorphoses by Ovid, Italy, (c 43 BC)

Middlemarch by George Eliot, England, (1819-1880)

Midnight's Children by Salman Rushdie, India/Britain, (b. 1947)

Moby-Dick by Herman Melville, United States, (1819-1891)

Mrs. Dalloway by Virginia Woolf, England, (1882-1941)

Njaals Saga, Iceland, (c 1300)

Nostromo by Joseph Conrad, England,(1857-1924)

The Odyssey by Homer, Greece, (c 700 BC)

Oedipus the King Sophocles, Greece, (496-406 BC)

Old Goriot by Honore de Balzac, France, (1799-1850)

The Old Man and the Sea by Ernest Hemingway, United States, (1899-1961)

One Hundred Years of Solitude by Gabriel Garcia Marquez, Colombia, (b. 1928)

The Orchard by Sheikh Musharrif ud-din Sadi, Iran, (c 1200-1292)

Othello by William Shakespeare, England, (1564-1616)

Juan Rulfo by Pedro Paramo Juan Rulfo, Mexico, (1918-1986)

Pippi Longstocking by Astrid Lindgren, Sweden, (1907-2002)

Poems by Paul Celan, Romania/France, (1920-1970)

The Possessed by Fyodor M Dostoyevsky, Russia, (1821-1881)

Pride and Prejudice by Jane Austen, England, (1775-1817)

The Ramayana by Valmiki, India, (c 300 BC)

The Recognition of Sakuntala by Kalidasa, India, (c. 400)

The Red and the Black by Stendhal, France, (1783-1842)

Remembrance of Things Past by Marcel Proust, France, (1871-1922)

Season of Migration to the North by Tayeb Salih, Sudan, (b. 1929)

Selected Stories by Anton P Chekhov, Russia, (1860-1904)

Sons and Lovers by DH Lawrence, England, (1885-1930)

The Sound and the Fury by William Faulkner, United States, (1897-1962)

The Sound of the Mountain by Yasunari Kawabata, Japan, (1899-1972)

The Stranger by Albert Camus, France, (1913-1960)

The Tale of Genji by Shikibu Murasaki, Japan, (c 1000)

Things Fall Apart by Chinua Achebe, Nigeria, (b. 1930)

Thousand and One Nights, India/Iran/Iraq/Egypt, (700-1500)

The Tin Drum by Gunter Grass, Germany, (b.1927)

To the Lighthouse by Virginia Woolf, England, (1882-1941)

The Trial by Franz Kafka, Bohemia, (1883-1924)

Trilogy: Molloy, Malone Dies, The Unnamable by Samuel Beckett, Ireland, (1906-1989)

Ulysses by James Joyce, Ireland, (1882-1941)

War and Peace by Leo Tolstoy, Russia, (1828-1910)

Wuthering Heights by Emily Brontë, England, (1818-1848)

Zorba the Greek by Nikos Kazantzakis, Greece, (1883-1957)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crimes and Misdemeanors trailer

Fanny and Alexander (1982) - Trailer

Ran Trailer - Akira Kurosawa

Raging Bull Trailer

Filmes de Drama Para Se Ver Antes de Morrer - Década de 80

O Homem Elefante (1980) - 124 min – P&B – David Lynch
  • Touro Indomável (1980) - 129 min – P&B – Martin Scorsese – Outra obra-prima de Scorsese, esse filme, que relata a história do lutador Jake La Motta, é um dos melhores da história. Com uma das melhores atuações de De Niro – que engordou quase trinta quilos para fazer o papel - , uma direção perfeita, com direito a socos brutais que arrancavam sangue aos borbotões, “Ranging Bull” só não ganhou todos os Oscar a que foi indicado porque a Academia preferiu dar os prêmios, mais uma vez, a outro filme que falasse sobre a vontade americana de vencer nas coisas. Novamente, uma lástima contra Scorsese, um dos maiores mestres do cinema em matéria de direção.

    Fanny e Alexander (1982) - 188 min – Cor – Ingmar Bergman – Para quem havia achado que Bergman já dera tudo de si ao cinema, esta obra veio para provar, definitivamente, que não. Bergman, com este filme meio que autobiográfico, mostra a história de um casal de irmãos – Fanny e Alexander – e suas vidas, que se tornam turbulentas após a morte de seu pai. Ganhador de quatro Oscar, “Fanny e Alenxander” demonstra a perfeição com que poucos diretores como Bergman podem fazer um filme.

    Laços de Ternura (1983) - 132 min – Cor – James L. Brooks

    Era Uma Vez na América (1983) - 227 min – Cor – Sergio Leone

    Amadeus (1984) – 160 min – Cor – Milos Forman – Laureado com 8 Oscar, inclusive o de Melhor Filme, Ator e Diretor, este é um dos mais belos filmes que já vi. O filme narra a história de ninguém mais ninguém menos do que Wolfang Amadeus Mozart, um dos maiores mestres da música clássica. Com uma trilha sonora responsável por minha “conversão” ao gosto da música clássica, direção perfeita, e atuações impecáveis de F. Murray Abraham e Tom Hulce, “Amadeus” é um filme inesquecível.

    Ran (1985) - 160 min – Cor – Akira Kurosawa – O épico de Akira Kurosawa, inspirado em “Rei Lear”, de Shakespeare e "transferido" para o Japão da Idade Média, prima pela beleza e violência, com algumas das cenas mais inesquecíveis da história do cinema. Uma história cheia de traições, guerras e tristezas.

    A Rosa Púrpura do Cairo (1985) - 84 min – Cor – Woody Allen – Buscando influências em Buster Keaton e seu “Sherlock Jr.”, Woody Allen cria um de seus melhores filmes, misturando, em sua excelência como diretor, surrealismo, humor e drama, ao contar a história de uma mulher, casada com um marido-monstro, que vai constantemente ao cinema tentar esquecer sua realidade. Num dado momento, o personagem principal de um filme que ela sempre vê resolve sair da tela para conversar com ela. É nesse clima de “absurdo” e magia que a história se desenvolve, proporcionando, ao mesmo tempo, risos e lágrimas.

    Hannah e Suas Irmãs (1986) - 103 min – Cor – Woody Allen

    O Decálogo (1988) - 53 min – Cor - Krzysztof Kieslowsk

    Crimes e Pecados (1989) - 107 min – Cor – Woody Allen – Buscando, geniosamente, influências em “Morangos Silvestres”, de Bergman, Woody Allen constrói um filme encantador, dirigindo-o com a mesma maestria de seu mestre, usando-se, inclusive, do fotógrafo exclusivo do sueco. Muitíssimo mais que apenas um plágio, Allen utiliza-se da influência de seu diretor preferido para construir um drama cheio de poder e tensão, desde o primeiro minuto até o aparecimento dos créditos finais. Um filme amargo, cheio de traições e coisas mal-resolvidas. E o mais importante, uma obra-prima impecável.

    Faça a Coisa Certa (1989) - 120 min – CorSpike Lee – Num dos melhores filmes da década, Spike Lee conta a história de seu bairro, um lugar quente, efervescente, onde se encontra todo tipo de gente: negros, brancos, coreanos, mexicanos, chineses, italianos, e o diabo a quatro. É neste inferno que se conta a história de um entregador de pizza, e a de seus vizinhos, entre eles seu patrão e os dois filhos, sua mulher, e várias outras criaturas muito interessantes. Com uma direção espetacular, Spike Lee mostra a convivência conturbada de diferentes pessoas, de diferentes classes, cores e origens, que um dia qualquer podem acabar se confrontando, e talvez, desse confronto, as coisas não resultem muito bem.


terça-feira, 21 de junho de 2011

Network (1976) movie trailer

Digressões sobre a TV

"Nós não somos uma rede respeitável. Somos uma rede prostituta. Temos que pegar o que conseguirmos!"

Eu odeio TV. É fácil falar isso diante de um notebook, onde gasto, pelo menos, duas horas diárias clicando em várias coisas, perdendo meu tempo. Posso até odiar a TV, mas tenho de admitir que também sou uma vítima. Muitos não conseguem admitir, tamanho vício já lhes está entranhado. Minha mãe mesmo não vive sem a TV e suas santas - ou seriam malditas? - novelas. Não só ela, mas bilhões de pessoas não vivem sem suas TV's. Elas fazem parte do seu dia; fazem parte da sua vida; fazem parte de seus corpos.

"Rede de Intrigas" é um ótimo catalizador desse vício que toma conta das pessoas. O filme fala do âncora de jornalismo Howard Beale - interpretado pelo ganhador do Oscar Peter Finch - que, após ser demitido devido à baixa audiência de seu telejornal, entra em colapso mental. Aproveitando-se disso, Frank Hackett - Robert Duvall - e Diana Christensen - Faye Dunnaway, também ganhadora do Oscar - que trabalham na emissora de Beale, percebem que podem usá-lo como uma espécie de "profeta do apocalipse", transmitindo aos vários corações americanos enraivecidos de que eles "estão loucos como o diabo e não irão aguentar mais". Quem não concorda com isso é Max Schumacher, amigo de Beale, que não vê nada de bom nessa baboseira toda.

Permeado por um roteiro fenomenal e atuações fantásticas, "Network" mostra muito bem o quão a TV tornou as pessoas bestializadas, ou, como Beale disse em um de seus delírios apocalípticos, tornou-as "humanoides". Mostra também como um canal de televisão não se importa nem um pouco em usar de todas as armas para que sua audiência aumente. Nem que seja necessário usar profetas loucos, gênios adivinhadores, e outras porcarias mais. Nada interessa a não ser a audiência.

Sdiney Lumet, com a ajuda das perfeitas atuações de Finch e Dunaway, consegue construir uma crítica ácida e sem pena sobre a banalidade da Televisão, que não se preocupa nem um pouco ao mostrar uma notícia de morte ao lado de uma propaganda de cerveja. A TV é podre e fede; tudo que ela toca é destruído, como diz Max.

Vencedor de quatro Oscar - Melhor Ator (Peter Finch), Melhor Atriz (Faye Dunaway), Melhor Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e Melhor Roteiro Original, "Network" é um dos mais notáveis e críticos filmes dos Anos 70. Sdiney Lumet, com sua costumeira competência, construiu, com seu filme, uma poderosa metáfora da banalização causada pela TV, que parece mais atual hoje do que quarenta anos atrás. Se as coisas já eram de tal forma preocupantes naquele tempo, o que diria Lumet hoje?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da série: "Imagens que assustam":


Suspíria, Dario Argento, 1977

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Porque ser comum é chato

Tenho uma grande desconfiança pelos filmes dos Anos 90 em diante. Obviamente a década de 90 ainda foi rica em filmes bons, mas já estava em franca decadência. Os Anos 2000 foram a derrocada final! Mesmo assim, alguns filmes ainda se salvavam. E "Beleza Americana" foi um deles.

"American Beauty", estrelado por Anette Bening e Kevin Spacey, conta a história de uma aparente feliz família americana, no melhor estilo "American Way Of Life". Na verdade, entre quatro paredes, a filha odeia os pais e estes vivem brigando entre si e vivendo uma existência vazia, sem amor ou compreensão.

Como em "Crepúsculo dos Deuses", sabemos qual será o futuro do protagonista: ele morrerá. Enquanto isso, conta como foi o último ano de sua vida, a irritante tranquilidade como que levava sua vida medonha, sem nenhuma perspectiva de melhora. Ele é apenas um americano comum que, disfarçado da carapuça de cidadão bem-sucedido, vive na mesquinhez de uma existência sem sentido, permeada por várias complicações: sua mulher só se interessa por coisas fúteis, sua filha não quer conversar com ele, trabalha há 14 anos no mesmo emprego medícore. E isso não é tudo. As coisas só tendem a piorar.

Mais do que uma simples história de um homem mal-sucedido que tenta buscar uma razão para viver, este filme é uma reflexão sobre como a rotina e a forma como levamos a vida acaba destruindo-a, acabando com nossos sonhos. Nos tornamos vazios, apáticos. Não vivemos, e sim, deixamos que a vida acabe nos levando, levando, até que chega um ponto em que nos perguntamos: peraí, será que estou mesmo vivendo? Ou apenas fingindo?
Mais que apenas reflexões filosóficas, "Beleza Americana" é um filme brilhante, que consegue encantar desde o primeiro minuto, e não perde o ritmo até o aparecimento dos créditos finais. Calcado numa ótima direção e numa trilha sonora fabulosa, ele ainda consegue propiciar atuações primorosas de Anette Bening e, principalmente, Kevin Spacey, ganhador do Oscar de Melhor Ator em 2000 e um dos melhores atores atuais. Seja qualquer papel que faça, desde um serial killer até um pacato cidadão, tenha-se a certeza de que ele o fará magnificamente bem.

"American Beauty" é um filme que se deve ver várias e várias vezes. Ele não cansa. E desafio quem não fizer uma reavaliação de sua vida após tê-lo assistido. E depois dessa reavaliação, descobrir que, mesmo com tanta coisa ruim no mundo, existem coisas belas que podem tornar nossas existências mais prazerosas.