"Então, o que é a pátria?
Um conjunto de rios que dão no mar".
Há alguns anos atrás, assisti com espanto e uma boa dose de estranhamento ao primeiro filme do espanhol Luís Buñuel. O filme era "O Anjo Exterminador". Não gostei de tal forma do filme, que até dormi!
Hoje, revi esse filme e tive a oportunidade de me deparar com mais uma bela obra-prima simplista do mestre espanhol. Como em vários de seus filmes, Buñuel coloca a burguesia no plano
principal do filme, com o objetivo de, como sempre, escrachá-la. Mas de uma forma satírica e muito bem-humorada.
"Pobre Leonora. Como está seu câncer? Há esperanças?
Não. Não lhe dou três meses para que fique calma.
E numa boa cova".
Como em "O Discreto Charme da Burguesia", quando os burgueses não conseguiam almoçar; como também em "Esse Obscuro Objeto de Desejo",quando um burguês não conseguia consumar
o ato sexual com sua parceira; em "O Anjo Exterminador", os burgueses, após uma festa, simplesmente não conseguem sair da casa dos anfitriãos. "Alguma coisa" os impede. Mas que "alguma coisa" é essa? Não se sabe. E nem interessa. Afinal, é Luis Buñuel!
O que mais impressiona, além de sua crítica mordaz e burlesca, é a capacidade de como ele consegue fazer algo simplista, de pouca duração e, mesmo assim, excelente. Buñuel mostra,
mais uma vez, que não precisa de grandes atores nem grandes orçamentos para fazer um bom filme. Ele parece ter uma fórmula, e a repete com sucesso a cada filme. E "El Angel Exterminador" é uma das provas mais competentes de sua maestria.
"O que está comendo?
É papel. Não é gostoso, mas engana a fome. (...) O sabor do papel não é desagradável. (...) O papel é bom. É feito com folhas e casca tenra das árvores. Não pode fazer mal".
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