Penso que todas as pessoas gostam de histórias. Eu também gosto muito delas. Não de todas, mas das que prendem minha atenção. Adoro as histórias fantasiosas, cheias de imaginação.
Todos, penso eu novamente, quando tem oportunidade, adoram contar suas histórias. Eu também quero contar uma história. É sobre um indivíduo – ou seria melhor chamar de divindade? – chamado Deus. Deus tem vários nomes – ou codinomes. Costumam chamá-lo de Senhor, Jeová, Javé, Deus-Todo-Poderoso, o “Cara-Lá-De-Cima”, Jesus – seu filho, mas que também é ele - , Espírito Santo, Santíssimo, Mestres dos Mestres, Senhor de Todos Nós, Criador do Céu e da Terra, Pai Celeste, e outra infinidade de nomes que não estou disposto nem um pouquinho de citar. Seja por preguiça ou mesmo pois não quero enfadar a história.
Antes de Deus – ou outro nome qualquer que preferirem – só existia o nada. E do nada, surgiu Deus. Não se sabe de quê foi formado, por quem ou de onde diabos veio – perdoem-me a piadinha – mas só se sabe que ele surgiu. Deus, depois de surgido do nada, descobriu, não se sabe como, que tinha super- poderes. Daí, resolveu criar, a cada dia, o céu, a Terra, os oceanos, os mares, os rios, as florestas, animais, dando o nome de paraíso a este lugar. Por último, criou o homem, do barro, e chamou-o Adão. Não se sabe como ele criou o homem do barro, mas Deus é Deus, e ninguém pode com ele. Deus, sábio como é, viu que faltava alguma coisinha. E, zás!, criou a mulher! E sabem como?, com um pedaço da costela de Adão.
Deus também criou anjos, arcanjos e querubins. E um desses, invejoso que era, queria ter os mesmos poderes que Deus. Deus, no auge de seu egocentrismo, não permitia que anjo algum quisesse se igualar à ele. Por isso, expulsou-o do Paraíso, jogando-o num lugar muito ruim, cheio de fogo, e mudando o seu nome para Lúcifer, também conhecido pelos nomes de Demônio, Satanás, Capeta, e por aí vai. Lúcifer, o dito cujo anjo caído, queria ver se se vingava de Deus. Com isso – e com a permissão de Deus, que não fez nada para impedir ou intervir – se transformou em cobra e ofereceu uma maçã à Eva. Eva, curiosa – algo que qualquer pessoa sadia é – comeu-a, ingenuamente. Não satisfeita, ofereceu a maçã à Adão, que também comeu. Não sabiam eles que a maçã era a fruta do pecado. Eva e Adão, dessa forma, trouxeram o pecado ao mundo, e por isso, foram expulsos do Paraíso e condenados a viverem, eles e sua posteridade, numa Terra feia e vazia. Não sei que mal Deus viu no fato da inocente mulher comer a maçã, mas, vá entender Deus!
Eva e Adão viveram centenas de anos, mas Deus estava afim de castigá-los mesmo! Os primeiros filhos que tiveram, chamados Caim e Abel, morreram cedo. Não se sabe porque, talvez de novo por inveja, Caim mata Abel. Deus bota a culpa em Eva; coitada, ela comeu a maçã por pura curiosidade; que mal há nisso?
Séculos depois, Deus envia à Terra Noé, o único homem, segundo ele, que não é pecador – sendo que, uma vez, se embebedou de cevada. Deus deve ter achado que se embebedar um pouquinho de cevada não faria mal nenhum.
Deus, com raiva dos seres que criara, resolveu mandar uma chuva que exterminaria toda a população da Terra. Noé, o servo de Deus, tinha como missão construir uma arca na qual ele e um casal de cada ser vivo escapassem da chuva enquanto Deus mandava ver nos pecadores. Por descuido, Noé deixou que entrasse um casal de baratas, mas vá, a missão dele era muito importante, e Noé não imaginaria o quanto as baratas iriam incomodar milênios depois.
Depois de Noé, veio Moisés. Ah, Moisés!!! Moisés, o homem que recebeu de Deus uma tábua com os dez mandamentos. E que depois de ver seu povo render graças a Deus, quebrou-a ao meio, de tanta raiva. É claro, Deus deve ter dado outra à ele.
Tais mandamentos eram como se fossem ordens de Deus para que o povo as seguisse. Não sabia Deus que sua futura Igreja não seguiria uma das mais importantes ordens: não matar. Mas isso é coisa futura, e eu não quero me perder em minha narrativa.
Depois de Moisés, vieram outros personagens importantes, como Davi – o rei que traiu sua mulher - ; Salomão, José, Jó – que Deus quis provar sua fé matando sua esposa e filhos – e tantos outros personagens, tantas outras guerras; muito sangue derramado em nome de Deus. Talvez Deus gostasse de sangue, daí tanta sede por ele...
Para que a história não fique chata, cheguemos logo ao personagem mais importante da história: Jesus, ou Deus; ou ainda, o Espírito Santo, se preferirem. Deus, injuriado com o povo, escolhe uma mulher – de nome Maria – e arruma-lhe um filho. Ah, sem os procedimentos conhecidamente triviais, é claro. José, marido de Maria, não é pai de Jesus, seu filho. Jesus é filho de Deus. Ou mesmo Deus, ou o Espírito Santo. Deus gosta de complicar as coisas e não explica nada direito.
Sem mais delongas, Deus mandou Jesus – ou a si mesmo – para que ele morresse na cruz e pagasse pelos pecados dos homens. Não sei se é uma bela solução encontrada por Deus, mas foi a que ele achou mais prática. Jesus morreu crucificado, MAS, três dias depois, advinhem!; ele ressuscitou! Isso mesmo, não é mentira minha. E foi para os céus, para junto de seu pai – ou para junto dele mesmo.
Anos depois, Deus – ou Jesus – manda que Pedro construa, sob uma pedra, a sua Igreja. Sim, Pedro, aquele mesmo que negou Jesus – ou Deus – três vezes! Sim, este seria o fundador da Igreja de Deus – sob uma pedra – e deveria espalhar a dita boa-nova por todos os recônditos escondidos deste mundão de Deus – ou de Jesus.
Pedro espalhou a boa nova – com o aval de Deus, é claro. Mas sua religião, fundada sob uma pedra, só conseguiu êxito quando Constantino, imperador de Roma, declarou o cristianismo – nome da religião que Pedro fundara sob uma pedra – a religião oficial do Império Romano. Aí já viu, né? Os outros deuses ficaram revoltados e o Império Romano foi para os ares!
Passando por infinitas e acirradíssinas guerras de opiniões, onde de cada lado vinham argumentos de que seu Deus ou os outros Deuses estavam corretos, a humanidade foi seguindo seu rumo. Nesse meio tempo, surgiram as Cruzadas, expedições enviadas à Jerusalém, dita cidade sagrada, a qual os cristãos – seguidores do cristianismo – queriam tomá-la de volta, pois era deles; era a terra de Jesus, filho de Deus – ou filho dele mesmo. Após muitos saques, assassinatos e derramamento de sangue, os cristãos conquistaram Jerusalém. Mas os islâmicos – seguidores de Alá, o mesmo Deus, só que em uma roupagem árabe – não deixaram barato e a reconquistaram. Foi um pega daqui, tira dali, e no fim, os islâmicos ficaram com Jerusalém!
Deus, ainda sedento de sangue, ordenou, alguns séculos depois, que fosse criado algo chamado “Inquisição”. Com ela, os padres bispos e arcebispos tinham por objetivo matar tudo que fosse bruxa, conhecida ajudante do demônio. Ah, coitada das mulheres! Talvez por uma mal-formada - vista – e já que não existiam oftalmologistas na época -, os sacerdotes de Deus colocaram no mesmo saco as bruxas e não bruxas. Eles nem queriam saber: era mulher, tinha que morrer queimada! Sim, eles queimavam viva as bruxas – e as não bruxas também! Antes, é claro, tinham que passar por um exímio interrogatório cheio de humilhações e torturas, para que a possível bruxa relatasse seus pecados e fossem salva. Salva pelo fogo, é claro!
Passando por tal capítulo, Deus, ainda não satisfeito, manda à Terra variadas punições. Por exemplo, vez ou outra, envia-nos dois ou três ditadores que comandam verdadeiros massacres de pessoas. Não satisfeito, ele ainda permite que pessoas morram de fome e de sede em variados lugares.
Mesmo em vista de tudo isto, bilhões de pessoas clamam seu nome e proclamam que o dia do Juízo Final chegará, e que só os bons irão para os céus e os pecadores ficarão na Terra, a arderem por toda a vida.
Bem, esta não é uma história muito feliz, nem muito recomendada para crianças. Entretanto, muitas crianças a sabem, mas não a dizem da minha forma. Muito pior, muitas pessoas acreditam cegamente nesta história absurda e a espalham como se fosse verdade. Teria sido divino se ela fosse apenas tomada como uma história.
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